terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Além da sociabilidade


                A ida de uma criança autista para a escola regular deve ser vista como um universo de estímulos e possibilidades, e não apenas como um benefício à socialização. Se o objetivo for exclusivamente este, podemos inseri-lo em qualquer outro grupo, como esportivo ou de artes. A escola regular pode oferecer uma serie de aprendizados pedagógicos e cognitivos que devem ser exigidos pelos cuidadores.

            Segundo uma dissertação de mestrado da Universidade de São Paulo (USP), apenas 27,7% dos pais de crianças com autismo avaliam que a escola colabora na aprendizagem acadêmica do filho. Por outro lado, 85% deles entendem a escola como uma experiência positiva e 53% acreditam que o desenvolvimento social é o resultado mais relevante na freqüência às aulas.

Para realizar sua pesquisa, Ana Gabriela Lopes Pimentel ouviu 56 cuidadores na região oeste da Grande São Paulo. Do total, 54 crianças iam para escola. A maioria dos pacientes era meninos, com idade entre 3 e 16 anos. Para Ana Gabriela, a pouca menção dos resultados educacionais dos filhos é devido a um de dois fatores: ou o potencial educativo das crianças e adolescentes com autismo está sendo subestimado, ou os resultados escolares estão sendo ignorados.

A orientadora da pesquisa, professora Fernanda Dreux Miranda Fernandes, explica que os 85% de aprovação, mesmo que não signifiquem aprendizado, é resultado de uma gratidão. Ela acredita que o medo de o filho não ser aceito é tão grande que, somente o fato de a criança estar matriculada e com direito ao convívio já é visto como suficiente.  Um equívoco, explica Fernanda. "A socialização não pode ser vista como o mais importante". Mesmo porque, afirma, a maior parte das crianças com autismo consegue acompanhar o currículo de uma escola regular, ainda que alguns com um aproveitamento relativo, desde que com acompanhamento adequado. 

Tempo na escola

Outra questão que chamou atenção durante a pesquisa é que apenas 70% das crianças com autismo frequentam a escola durante toda a semana, enquanto mais de 16% vão apenas três dias por semana. Resultado de falta de estrutura e preparo, explica Fernanda Dreux. "A política pública é incluir as crianças em escolas regulares. Mas ainda há situações como a de professores que têm uma sala com 50 alunos e mais uma criança autista", pondera. 

A fonoaudióloga Danielle Defense, que trabalha com crianças autistas, diz que, mesmo aliviados, muitos pais acabam frustrados com a situação e não raro, têm um histórico de tentativas em muitas escolas. "Eles mostram bastante insatisfação em como são recebidos e como são ouvidos pelos professores e diretores, por mais que as crianças estivessem na escola. Há muita resistência." Ainda assim, Daniele insiste para que os pais não desistam, e acompanhem o progresso acadêmico do filho. "O trabalho de sociabilização é muito importante, mas a criança tem que ter aprendizado", completa.

FONTE: www.teses.usp.br – Ana Gabriela Lopes Pimentel

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